História e panorama mundial dos vinhos produzidos na América do Sul, nos países Brasil, Chile e Argentina. As condições geográficas, as uvas e suas regiões , a classificação dos vinhos e as produções frente ao mercado internacional.
Um universo que permite reencontrar nossos sentidos, potencializar nossas emoções e se conectar com a essência de cada um. Degustar significa a ação do experimentar, provar e saborear, detectar diferenças entre aromas e sabores e fazer conexões com repertórios próprios da vida de cada indivíduo.
Do latim degustare, degustar é uma arte, onde ultrapassamos as referências elementares e atingimos novas próprias sensações e estímulos. “ Antes de beber o vinho, antes mesmo de aspirá-lo, é mister verificar seu aspecto através da parede lisa do copo. A visão é assim o primeiro sentido que usamos na degustação.
“ A degustação é uma disciplina e ao mesmo tempo uma arte difícil (…) A degustação é a codificação de uma atividade gastronômica. O vinho, para ser apreciado, exige atenção, recolhimento e o saber analisar duplica o prazer de degustar.” Émile-Peynaud
O vinho surge com a própria civilização. Os gregos antigos já dominavam as técnicas da vinificação por volta de 750 a.C. e, desde então se desenhava um caminho longo de solidificação nas mais diferentes culturas, onde o cultivo das uvas chegaria aos países e fincaria suas raízes na Itália e França. Multiplicidade de cores, odores e sabores
Por meio dos olhos, nariz e boca captamos essas sensações e transmitimos para o cérebro, que se encarrega de reconhecer de acordo com as informações armazenadas na memória. O vinho ao entrar em contato com a língua desencadeia a liberação de neurotransmissores, que levam as informações até o cérebro, onde são identificados os tipos de gosto. A mágica acontece em forma de ciência, filosofia e arte. Um terço de taça e toda a experiência possível ao nosso alcance.
DA HISTÓRIA A PRODUÇÃO ATUAL
Na Europa, foi o catolicismo o próximo elemento importante de expansão e desenvolvimento da cultura vinícola, não só pela adoção da bebida rubra na liturgia da missa [...], mas também pelos importantes vinhedos dos mosteiros e conventos, que transformaram a vitivinicultura em fator de receita. (VIDOTTI, 2010, p. 48)
Os vinhos do Novo e Velho Mundos possibilitam uma viagem à história, terras, solos temperaturas, geografia , tipos de uvas entre tintos e brancos, que caracterizam a riqueza do mundo dos vinhos.
Na época das grandes navegações surge o chamado Novo Mundo. Videiras vindas da Europa chegam ao Peru em 1531. No Brasil essa história se inicia em 1532 quando o português Martin Afonso de Souza, colonizador trouxe as videiras europeias, que deram início à primeira tentativa de vitivinicultura no Brasil.
De uma forma global o desenvolvimento da vitivinicultura na América do Sul se devetambém ao processo de colonização com a chegada dos italianos, espanhóis e portugueses.
Os italianos foram determinantes para o fortalecimento da cultura do vinho em 1870. Eles recomeçaram o plantio de videiras no Rio grande do Sul. Inicialmente foram usadas as videiras de espécie Vitis, Vinífera trazida pelos imigrantes, mas como a espécie mostrou dificuldade de se desenvolver diante do clima do brasileiro logo chegaram as videiras de espécie americana. A casta Isabel, por exemplo, ainda hoje ocupa perto de 80% das parreiras de uvas americanas.
Inicialmente o cultivo da uva no Brasil era feito por pequenos fazendeiros na região úmida e montanhosa da terra gaúcha. Sabe-se que 90% de todo o vinho de qualidade- aquele feito com uvas viníferas- é produzido no Rio Grande do Sul, dividido em duas regiões distintas: Serra Gaúcha e Campanha Gaúcha. Na produção cultivam-se diferentes castas viníferas, sendo a grande maioria de brancas . Riesling, Sémillion e Chardonnay são uvas brancas, que se destacam na produção gaúcha e Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc como tintas.
A entrada da América do Sul no mercado internacional é muito recente. Em 2010 os vinicultores
começaram a atingir os mesmos padrões dos líderes mundiais. O Chile é o primeiro país a exportar vinhos, seguido pela Argentina com a maior produção e o Brasil em terceira lugar.
O Chile começou a desenvolver suas primeiras atividades vitivinícolas no século XVI com a chegada dos colonizadores espanhóis. Em 1811 Silvestre Ochagavia, considerado o pai da vitivinicultura chilena, levou para o Chile enólogos e mudas francesas.
Quando a Phylloxera começou a acabar com os vinhedos europeus, o Chile protegeu suas plantações, isolando-as e impedindo a entrada de novas mudas. Foi o único país do mundo a escapar ileso da praga, protegido pela Cordilheira dos Andes de um lado e pelo Oceano Pacífico do outro.
“O Chile tem uma característica distinta como produtor de vinho que pode ser perfeitamente resultado de seu isolamento geográfico ficando livre de pragas. Os vinhedos crescem tranquilamente em suas raízes.” Atlas Mundial do Vinho. Na década de 1980 com a abertura política e econômica o Chile começou a despontar no mercado internacional como o mais forte produtor da América do Sul.
As principais regiões de qualidade do Chile se dividem entre o Vale do Aconcágua (sub-região de Casa Blanca) e a região Central (Sub regiões de Maipo, Rapel, Curicó e Maule). Dessas regiões Casablanca é especializada em vinhos brancos devido ao seu clima costeiro e frio, especialmente as uvas Chardonnay e Sauvignon Blanc. Nas outras regiões os grandes destaques são os vinhos tintos, especialmente das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot. “O Chile é extremamente bem talhado para o cultivo de uvas. Se clima mediterrâneo resulta em dias consecutivos sem nuvens e muita luz solar em uma atmosfera seca e sem poluição.” Atlas Mundial do Vinho.
Em terras argentinas
A entrada da Argentina no mercado dos vinhos é uma historia relativamente recente. Se deu a partir de 1990 quando implantou uma rápida mudança no sistema de desenvolvimento vinicultor, o que levou a se tornar o quinto maior produtor de vinhos do mundo. Depois de um longo período de caos econômico as adegas foram rejuvenescidas . Vinhos encorpados e de sabor intenso caracterizam a produção atual ,que depois de muito investimento já é considerada pela imprensa especializada em pé de igualdade com os chilenos diante do mercado internacional.
As principais regiões vinícolas de qualidade da Argentina são Salta, Mendoza, Rio Negro, San Juan e La Rioja, todas seguindo a linha dos Andes. A maior delas contando com 90% das empresas vinícolas do país, é a região de Mendoza, de onde saem enormes quantidades de vinhos, comuns e refinados.
As uvas mais utilizadas da Argentina para a produção de vinhos de consumo local são Crioulla, a Cereza e algumas italianas comuns como a Bonarda e a Barbera. Nos últimos anos a Argentina mostra um desenvimento significativo nas plantações de castas refinadas como as tintas Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e principalmente Malbec, uva originária de Bpordeaux e que na Argentina atinge qualidade para vinhos finos.
Das brancas, além das tradicionais Torrentes, que produz vinhos aromáticos os produtores de vinhos finos tem utilizada cada vez mais as castas Chadonnay, Sauvigno Blanc, Chenin Blanc e Riesling.
Território brasileiro
Na época da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, a bebida de Dionísio já tinha consumo e produção amplamente difundidos na Europa, tanto pelo hábito trazido do Império Romano quanto pelos rituais da Igreja. Mas além disso, vale ressaltar que Portugal já era, há muito tempo, uma nação especialmente ligada à vinicultura.
O processo de colonização no Brasil também foi determinante para a expansão da cultura do vinho no país. Com a chegada dos imigrantes italianos a partir de 1870 começou o plantio das videiras na serra gaúcha. O país passa por uma transformação quanto à produção de vinhos, que está sendo adaptada de acordo com o local de plantio e cultivo das uvas, o que por sua vez resulta em espécies diferenciadas em cada região.
O Rio Grande do Sul, responsável pela produção de 90% dos vinhos de todo o Brasil, produziu mais de 485 milhões de litros apenas em 2017. Revista Exame
Espera-se que 2018 se inicie com 281,3 milhões de litros em estoque, quantidade 220% maior do que a que estava disponível em 2017, que era de 127,7 milhões de litros. Esse pensamento é de Oscar Ló, presidente da Fecovinho/RS (Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul) e também vice-presidente do Ibravin.
Com tudo isso, não faltam opções de vinhos maravilhosos para oferecer aos consumidores, de modo a potencializar o mercado nacional. Uma história que tem muito a revelar .Nos anos 1980,por exemplo, começaram a surgir as primeiras confrarias do vinho, com degustações, periódicos e informações para os enófilos de todo o país. O consumo do vinho fino começou a crescer, mesmo que devagar, junto com uma população de consumidores informados e mais exigente.
Hoje o Brasil tem sido responsável por uma produção de vinhos de grande qualidade. Atualmente, também foi considerado uma das melhores regiões para o cultivo de uvas destinadas a produção de espumantes. Hoje, o Brasil exporta vinho para aproximadamente 22 países.
A produção de vinhos finos no Brasil chega a 10.000 hectares de uvas Vitis vinifera, divididos principalmente entre seis regiões: Serra Gaúcha, Campanha, Serra do Sudeste e Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, Planalto Catarinense, em Santa Catarina, e Vale do São Francisco, no Nordeste do país.
São aproximadamente 150 vinícolas elaborando vinhos finos espalhadas pelo país.
A indústria vitivinícola brasileira é formada ainda por cerca de outras 1.000 vinícolas, a maioria instalada em pequenas propriedades (média de 2 hectares por família), dedicando-se à produção de vinhos de mesa ou artesanais.
Ao todo, entre variedades viníferas e comuns, a área coberta por vinhedos no país é de aproximadamente 89.000 hectares, em polos localizados de norte a sul.
A cadeia produtiva da uva e do vinho combina técnicas que garantem a qualidade de seus rótulos, como a colheita manual, com tecnologia de ponta nos processos de viticultura e vinificação. Nessas condições, o Brasil consegue dar origem a vinhos frescos, frutados e equilibrados. E nesse universo, surgem os vinhos que crescem diante de uma degustação e harmonização. Um elemento fundamental em um vinho gastronômico é a acidez. Ela aumenta a produção de saliva, ajudando a quebrar os alimentos. A acidez tem a capacidade de destacar os sabores dos pratos. Além disso, ameniza o sal, combate a gordura, “limpa” o palato e a língua e dá a estrutura necessária ao vinho. Revista Adega
Outro elemento importante é a madeira, o estágio em barricas de carvalho que arredondam os taninos. Emprestando sabores tostados e caramelados, ganhando complexidade e corpo.
Vinhos brancos falam a linguagem das flores, vinhos tintos trazem tons fortes de rubi e violeta. Degustar vinhos de diversas origens é um exercício de liberdade. No Novo Mundo temos a inovação e a variedade de uvas. Vinhos do Novo Mundo tendem a ser suculentos. Clima mais quente resulta em uvas mais maduras, centrados nas frutas, um estilo próprio para cada região.
A arte de reconhecer as características de cada vinho, seus aspectos, seus aromas é um exercício dos sentidos. Sensações ao beber, sentir o vinho e interpretá-lo. É como escrever poesia, A medida que os sentidos ficam aguçados ficam também mais óbvias as diferenças entre um Cabernet Sauvignon e um Pinot Noir, por exemplo. Depois do aprendizado fica mais fácil distinguir e detectar as diferenças entre aromas de carvalho ou de uma fruta. E de maneira natural a sinergia entre o vinho e quem o consome se estabelece entre razão e emoção.
Referências:
JOHNSON Hugh. ATLAS MUNDIAL DO VINHO. 7 edição PACHECO. Aristides. VINHOS E UVAS.4 edição .São Paulo. Editora Senac